Andrés Diniz
Eu me tornei André Diniz na minha primeira eleição para vereador, em 1992. Perdi. Mas fiquei com o nome. Antes, tive vários apelidos: Baleia, Faustão, Orca e Idade da Pedra – apodo ligado ao meu jeito de andar. Só que já nasci sacana. E o que faz um sacana? Sacaneia ele mesmo. Nenhum dos apelidos pegaram. Sou André Diniz até hoje.
Pois bem. Virei professor André Diniz, vereador André Diniz e escritor André Diniz. Aí reside a origem desse texto.
Com o decorrer do tempo e mais conhecido na vida pública, descobri que existem outros Andrés Diniz no cenário. A primeira vez foi quando a Vila Isabel foi campeã do carnaval de 2006, com o en- redo “Soy loco por ti, América: A Vila canta a latinidade”, patrocinado pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. Estava naquele churrasco obrigatório da quarta-feira de Cinzas, assistindo à apura- ção das Escolas, quando o telefone tocou:
– É o André Diniz?
– Sim. Disponha desse caboclo.
– Aqui é do Jornal O Globo. Queremos fazer uma matéria de capa com você. Falar das suas vitó- rias nos sambas de enredo da Vila e de seus livros sobre samba e carnaval.
Dei aquele risinho.
– Olha, sabe de uma coisa, iria adorar ser capa do O Globo, só que eu não sou o André Diniz da Vila.
– Você não é professor de história e faz samba-enredo?
– Sou, só que eu nunca ganhei um na vida. O vitorioso é meu homônimo. Mas, se quiser fazer capa de jornal, estamos aí… risos…
Todo ano que o André Diniz ganha na Vila é a mesma coisa. Liga a senhora do bairro, os parla- mentares, o conhecido distante e aquele amigo, que nem imaginava que também viajava na maione- se, achando que eu era o vitorioso. Com o tempo, passei a ser mais propositivo e deixar as pessoas mais felizes com o telefonema. Simplesmente respondia: obrigado! Até hoje não conheci o André Diniz, compositor da Vila, maior vitorioso da escola em sambas-enredo, mas soube que ele também assinou muitos livros meus…
Como nós dois somos flamenguistas de quatro costados, um dia estava no Clube esperando o meu cartão de sócio proprietário. Estávamos eu e um senhor. De longe, a assessora levantou a carteira e chamou por André Diniz e eu o senhor caminhamos juntos para pegá-la. Perguntei:
– O senhor é o André Diniz?
– Não, é a carteira do meu filho.
Ao menos conheci o pai do André Diniz, compositor da Vila!
***
O saudoso Alcione Araújo, dramaturgo e escritor, certa vez me convidou para participar da Feira Literária de Passo Fundo. Iria falar de música popular e história. Quando cheguei ao hotel, na agradável cidade do Sul, peguei em cima da cama o folder de apresentação da Feira. Na parte dos convidados, tinha uma foto minha e a biografia de outro André Diniz, o cartunista. Cheguei a rir na hora. Tinha mais um André Diniz! Imaginei que o cara deveria estar puto com a situação.
Quando fui para o salão da Feira, perguntei ao Alcione quem era o outro André Diniz. Ele me apontou um cara de mãos dadas com uma deusa do lado. De pronto, não titubeei: “Alcione, por favor, chame os seguranças e mande aquele indivíduo soltar o braço da minha mulher…”.
A situação mais constrangedora e hilária que passei com meus homônimos foi na Feira Literária de Araruama. Sempre adorei participar desses encontros, sobretudo em escolas públicas. Fiz isso pelo Brasil inteiro contratado pela Editora Moderna, atual Salamanca. Fui convidado para ser o ho- menageado do ano na Feira. Que chique!!!!!
Parti de carro com meu amigo Diogo Cunha, um ser que transporta um humor ácido de causar inveja. Figura ideal para a cena que se configurava. Cheguei à escola e a festa já rolava. Eu me senti uma celebridade. Professores, pais e alunos vinham falar comigo como se estivessem diante de um Prêmio Nobel de Literatura. A escola estava toda enfeitada e rolava, no meio do pátio, uma música ao vivo para os convidados. A diretora da escola – uma senhora de tamanho elevado que seguia o perfil do cargo – se aproximou de mim e me convidou para visitar as salas em minha homenagem. Foi um séquito de gente conhecer o trabalho das crianças me homenageando.
Entrei na primeira sala e era o André Diniz escritor. Gente, estavam lindos os desenhos das crianças destacando os compositores populares, trabalhos que abordavam o carnaval, o samba e os ritmos brasileiros.
Fomos para a segunda sala. Aí comecei a suar frio. Era o André Diniz compositor. Jesus, Jesus. Olhei para o Diogo que já começava com seu sorriso sarcástico. Uma professora me abraçou e disse que adorava a Vila Isabel. Que já desfilara na escola de Martinho da Vila, que foi um dos momentos mais felizes da vida dela. Fiquei mudo com um sorriso contido… me conduziram para a próxima sala.
Aí o barraco caiu de vez. Era o André Diniz cartunista. Reproduziram os cartuns do desenhista com minhas fotos na parede. A diretora, sempre comendo alguma coisa, me disse: “eu não sei como você consegue fazer tanta coisa bacana”. E eu, não querendo estragar a festa, complementei: “nem eu!”. Fomos em frente para a última sala. Cochichei com Diogo: “meu filho, o que vem agora, rapaz… que loucura!”.
Era a sala do André Diniz, autor de livros de informática. Caraca, fui ao delírio. Informática, como assim? Esse eu nem sabia que existia. Tinham “meus livros” na sala, um computador e desenhos que as crianças fizeram nesses muitos programas que nem sei o nome. Alguém pegou o microfone e pediu que eu desse uma palavra. Gelei de novo. Diogo, perto mim, buzinou no meu ouvido: “só não fala de Windows, por favor…” Eu, por vias das dúvidas, peguei o microfone e passei a falar da beleza e da importância que é organizar uma feira literária para as crianças e jovens…
Ufa, homenagem recebida. Saí feliz da festa e, de longe, já no carro, acenava para a diretora que continuava comendo alguma coisa.
Para o saudoso amigo Alcione Araújo.